A Ordem Cisterciense, profundamente ligada à espiritualidade mariana, dedica todas as suas casas a Nossa Senhora sob o título da Assunção, cuja festa é celebrada em 15 de agosto. No nosso caso, além dessa tradição mariana, o nome do mosteiro reflete uma conexão histórica com o nome original do Brasil, outrora denominado Terra de Santa Cruz, atribuído pelos portugueses ao chegarem ao território nacional com suas caravelas adornadas com uma grande cruz.
Esses portugueses eram membros da Ordem de Cristo e herdeiros diretos da Ordem do Templo, cuja regra foi escrito pelo próprio abade São Bernardo de Claraval, parente direto dos seus fundadores. São Bernardo foi uma figura-chave no reconhecimento da independência de Portugal pela Santa Sé, atuando como intermediário entre D. Afonso Henriques e o Papa. Seu apoio foi crucial na afirmação da independência do Condado Portucalense em relação ao Reino de Leão e na doação do Mosteiro de Alcobaça por D. Afonso Henriques, em gratidão pela vitória da cruzada na Tomada de Santarém em 1147. Segundo a lenda do Milagre de Ourique, Cristo crucificado teria garantido a vitória e a proteção futura do novo reino a D. Afonso Henriques, indicando sua missão evangelizadora em terras distantes, e, alguns acrescentam, lhe teria dito “IN HOC SIGNO VINCES”, frase associada à visão do Imperador Constantino, que exilou Santo Atanásio em Tréveris na Alemanha, inclusive. Vale destacar que até 1822 o Brasil não apenas fazia parte do Reino de Portugal, como também possuía a capital do Reino.
Como o primeiro mosteiro cisterciense fundado no Brasil, em 1936, Dom Atanásio Merkle, vindo da diocese de Tréveris, recebeu dos monges de Himmerod uma cruz de madeira com a inscrição latina: “Os irmãos da Alemanha oferecem esta cruz ao primeiro mosteiro cisterciense no Brasil, como um símbolo (SIGNO) dos trabalhos de caridade e da vitória”; que, na realidade, é um relicário contendo um fragmento do braço de São Roberto do Molesme, abade fundador da Ordem Cisterciense. Adotando também o lema “IN HOC SIGNO VINCES”, Dom Atanásio reforçou a missão espiritual da comunidade cisterciense no Brasil, nomeando o mosteiro de “Monasterium B. M. V. ad Sanctam Crucem”, ou, literalmente, “Mosteiro de Nossa Senhora à Santa Cruz”. A solenidade do mosteiro era celebrada até o Concílio Vaticano II no dia da Invenção (descoberta) das relíquias da Santa Cruz por Santa Helena, mãe de Constantino, em 3 de maio, um dia após o dia de Santo Atanásio de Alexandria e, não curiosamente, o dia oficial do Descobrimento do Brasil até o período de Getúlio Vargas; a partir do Concílio, contudo, a solenidade passou a ser celebrada no dia da Exaltação da Santa Cruz.
Dessa forma, hoje, neste dia tão especial, restauramos o nome de nossas redes sociais para “Abadia de Santa Cruz”, nomenclatura historicamente documentada nos arquivos do mosteiro, visando reforçar a nossa identidade histórica e espiritual, facilitando a compreensão e evitando a confusão entre os fiéis que interpretam erroneamente “Nossa Senhora da Santa Cruz” como um título mariano.