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A Medalha de São Bento

I – O sinal da Cruz

Basta que o cristão considere um pouco a virtude soberana da Cruz de Jesus Cristo, para compreender a dignidade de uma medalha na qual ela vem representada. A Cruz foi, na realidade, o instrumento da redenção do mundo; ela é a árvore da salvação sobre a qual foi expiado o pecado que o homem cometera ao comer o fruto da árvore proibida. São Paulo nos ensina que a sentença na nossa condenação foi pregada na Cruz, sendo ali apagada pelo sangue do Redentor (Col. II, 14). Por fim, a Cruz, que a Igreja saúda como a nossa única esperança,, há de aparecer no último dia sobre as nuvens do céu como troféu da vitória do Homem-Deus.

A representação da Cruz desperta, em nós, todos os sentimentos de gratidão para com Deus, pelo benefício de nossa salvação. Depois do Santíssimo Sacramento, nada há sobre a terra que mais digno seja de nosso respeito do que a Cruz; é por isso que lhe tributamos um culto de adoração, o qual se refere a Nosso Senhor, que regou com seu Sangue divino.

Animados pelos sentimentos da mais pura religião, os cristãos tiveram, desde os primórdios da Igreja, profundíssima veneração para com a imagem da Cruz; e os santos Padres não cessavam de louvar aquele augusto sinal. Quando, após três séculos de perseguição, Deus houve por bem conceder paz à sua Igreja, apareceu no céu uma Cruz com estas palavras: In hoc Signo vinces, em português: Com este Sinal vencerás; e o imperador Constantino, a quem se destinava aquela visão que lhe prometia a vitória, determinou que seu exército sairia a combate, daí em diante, sempre debaixo de um estandarte que representava a imagem da Cruz com o monograma de Cristo; e tal estandarte foi chamado Lábaro.

A Cruz causa terror aos espíritos malignos, que sempre recuam diante dela, e que, mal a vistam, logo se apressam a largar a presa e fugir. Por fim, tal é, para os cristãos, a importância da Cruz e tal a bênção que ela leva consigo, que desde os tempos apostólicos até nossos dias conservou-se inviolável o costume de fazerem frequentemente sobre si o sinal da Cruz, e os ministros da Igreja sempre o empregaram sobre todos os objetos que o caráter sacerdotal lhes dá o poder de abençoar e santificar.

Assim sendo, nossa medalha, que representa, em primeiro lugar, a imagem da Cruz, está em perfeita harmonia com a piedade cristã, e só por esse motivo já se torna digna do maior respeito.

Medalha de Sao Bento

A medalha de São Bento é um eficaz  sacramental que nos incita à renúncia do pecado.

II – Os símbolos da Medalha

A honra de figurar na mesma medalha com a imagem da Santa Cruz foi concedida a São Bento, com a finalidade de bem indicar a eficácia que teve em suas mãos aquele sagrado sinal. São Gregório Magno, que escreveu a vida do santo Patriarca, no-lo representa dissipando com o sinal da Cruz suas próprias tentações, e quebrando com o mesmo sinal, feito sobre uma bebida envenenada, o cálice que a continha, de modo a patentear o perverso desígnio dos que tinham ousado atentar contra sua vida. Se o espírito maligno, para aterrorizar os monges, lhes faz parecer em chamas o mosteiro de Monte Cassino, São Bento logo dissipa esse prodígio diabólico fazendo sobre as chamas fantásticas o mesmo sinal da Paixão do Salvador. Quando seus discípulos andam interiormente agitados pelas sugestões do tentador, indica-lhes como remédio o traçarem sobre o coração a imagem da Cruz.

Além da imagem da Cruz e a de São Bento, a medalha traz ainda certo número de letras, cada uma das quais representa uma palavra latina. As diversas palavras, reunidas, formam um sentido que manifesta a intenção da medalha: exprimir as relações que existem entre o santo Patriarca dos Monges do Ocidente e o sinal sagrado da redenção do gênero humano; e ao mesmo tempo pôr ao alcance dos fieis um meio eficaz de empregar a virtude da Santa Cruz contra os espíritos malignos.

Essas letras misteriosas acham-se dispostas na face da medalha em que está representada a Santa Cruz. Examinemos, em primeiro lugar, as quatro que vêm colocadas entre as hastes da referida Cruz.

C S P B

Significam: Crux Sancti Patris Benedicti; em português: Cruz do Santo Padre Bento. Essas palavras já explicam o fim da medalha. Na linha vertical da Cruz, lê-se:

C

S

S

M

L

O que quer dizer: Crux sacra sit mihi lux; em português: A Cruz sagrada seja minha luz. Na linha horizontal da mesma Cruz, lê-se:

N. D. S. M. D.

O que significa: Non draco diti mihi dux; em português: Não seja o dragão meu guia.

Reunindo-se essas duas linhas, forma-se um verso pentâmetro, pelo qual o cristão exprime sua confiança na santa Cruz e sua resistência ao jugo que o demônio lhe quereria impor.

Em redor da medalha existe uma inscrição mais extensa, a qual em primeiro lugar apresenta o santíssimo Nome de Jesus, expresso pelo monograma bem conhecido:

I. H. S.

A fé e a experiência nos certificam a onipotência desse Nome divino. Vêm depois, da direita para esquerda, as seguintes letras:

V. R. S. N. S. M. V. S. M. Q. L. I. V. B.

Essas iniciais representam os dois versos que seguem: Vade reto satana: nunquam suade mihi vana: Sunt mala quae libas; Ipse venena bibas. Em português: Afasta-te, satanás; nunca me aconselhes tuas vaidades, a bebida que ofereces é o mal: bebe tu mesmo teus venenos.

Tais palavras supõem-se terem sido ditas por São Bento: as do primeiro verso, por ocasião da tentação que sentiu e da qual triunfou fazendo o sinal da Cruz; as do segundo verso, no momento em que seus inimigos lhe apresentaram uma bebida mortífera, que ele descobriu benzendo com o sinal da vida o cálice que a continha.

O cristão pode utilizar essas palavras todas as vezes que for assaltado por tentações e insultos do inimigo invisível de nossa salvação. O próprio Jesus Cristo Nosso Senhor santificou as palavras Vade retro, satana – Afasta-te, satanás – e seu valor é certo, uma vez que nos é assegurado pelo próprio Evangelho. As vaidades que o demônio nos aconselha são as desobediências à lei de Deus, as pombas e as falsas máximas do mundo. A bebida que o anjo das trevas nos apresenta é o pecado, que dá morte à alma. Em vez de aceitá-la, devolvamos a ele tão funesto presente, já que ele mesmo o escolheu como sua herança.

Não há necessidade de explicar mais longamente ao leitor cristão a força dessa conjuração, que opõe aos artifícios violências de satanás tudo quanto ele mais teme: a Cruz, o santo Nome de Jesus, as próprias palavras do Salvador quando tentado, e, por fim, a recordação das vitórias que o grande Patriarca São Bento alcançou sobre o dragão infernal. Basta alguém pronunciar com fé tais palavras, e imediatamente se sentirá com forças para arrostar todas as investidas do inferno. Mesmo que não conhecêssemos os fatos que demonstram até que ponto teme essa medalha, a simples apreciação do que ela representa e do que ela exprime já bastaria para que a considerássemos uma das mais poderosas armas que a bondade de Deus nos pôs ao alcance contra a malícia diabólica.

Fonte: A Medalha de São Bento

(Dom Próspero Guéranger, O. S. B – Abade de Solesmes).

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