Nossa História
Marija Zvijezda
Pe. Franz Pfanner, monge austríaco de Mariawald, sentindo-se impelido a ajudar os pobres, funda o Mosteiro de Mariastern ou Marija Zvijezda, de observância trapista, em Banja Luka na Bósnia, parte do então Império Otomano, atraindo numerosas vocações alemãs e austríacas. Inquieto, parte em missão para a África do Sul com cerca de 60 monges, e funda o Mosteiro de Mariannhill. Alguns monges, contudo, foram proibidos de partirem, como o Pe. alemão Dominik Assfalg, secretário das Missões Bósnias, que arrecadava fundos para os trabalhos misisonários do mosteiro bósnio.
Reforma da reforma
O Papa Leão XIII agrega juridicamente vários mosteiros cistercienses de observância trapista (mais austera) para formar uma nova Ordem: a Ordem Cisterciense da Estrita Observância, juridicamente distinta da Ordem Cisterciense. Devido a isso, a Abadia de Marija Zvijezda passa a pertencer à nova Ordem monástica.
O abade do apogeu
Pe. Dominik Assfalg, grande entusiasta do espírito missionário de Pe. Franz Pfanner, é eleito o novo Abade de Marija Zvijezda, levando-a ao seu apogeu na década de 1910, quando então contava com mais de duas centenas de trapistas, que se dedicavam intensamente aos mais diversos trabalhos caritativos e missionários em meio à população pobre, através da usina hidrelétrica, orfanato, escola, hospital, imprensa, etc.
o Novo secretário das missões bósnias
Ludwig Merkle, um jovem alemão bávaro, recém formado entre os beneditinos, fortemente atraído pelo entusiasmo trapista do leste europeu, ingressa no noviciado de Marija Zvijezda recebendo de Dom Dominik Assfalg o nome de Irmão Atanásio, em honra a Santo Atanásio de Alexandria. Após professar solenemente os votos monásticos em 1907 e ter concluído os estudos de filosofia e teologia, foi ordenado sacerdote em 4 de agosto de 1913, época em que trabalhava no mosteiro como o novo secretário para as Missões Bósnias, com o intuito de arrecadar fundos para as atividades de seu grandioso mosteiro.
A Grande Guerra
Com o estopim da 1ª Guerra Mundial, devido ao atentado em Sarajevo (atual capital da Bósnia e Herzegovina), vários monges trapistas são convocados a prestarem serviço de guerra, entre eles Pe. Atanásio Merkle e seu confrade Pe. Vito Recke, que servem como enfermeiros em hospitais de campanha no território imperial alemão.
Exilados em sua pátria
Com a derrota dos Impérios Austro-Húngaro e Alemão no fim da 1ª Guerra Mundial, os trapistas alemães não puderam retornar ao seu Mosteiro na Bósnia, que então passara a fazer parte do Reino da Iugoslávia. Exilados em sua própria pátria, os monges acabaram sendo forçados a permanecer na ressentida Alemanha de Weimar, sem mosteiro, sem Abade.
Como nos tempos de outrora?
Idealista e visionários, os jovens trapistas exilados não se lamentaram, mas adquiriram, mediante as arrecadações da Secretaria das Missões Bósnias, as ruínas da antiga Abadia de Himmerod no Eifel, fundada por São Bernardo de Claraval em 1134 e destruída pela secularização da Revolução Francesa em 1802. A princípio sonharam com os tempos áureos da observância de outrora, mas nem os tempos de São Bernardo nem os tempos de Dom Dominik lhe foram concedidos, mas unicamente os tempos árduos de uma Europa devastada após a guerra.
À serviço da Igreja
Tendo restaurado a antiga portaria da Abadia de Himmerod, os monges da Ordem Cisterciense da Estrita Observância finalmente tiveram um teto sob o qual recitar o Ofício Divino... no entanto as circunstâncias eram outras: a pedido do Bispo da diocese de Tréveris, onde o mosteiro estava situado, os monges foram incumbidos de dar assistência pastoral à população local, o que os obrigou a mudar para a Ordem Cisterciense. Tal mudança pode ser realizada mediante a colaboração dos monges cistercienses da Abadia de Marienstatt, que se empenharam pela causa restauracionista.
Cistercium mater nostra
Com a colaboração dos cistercienses de Marienstatt, finalmente a secular Abadia de Himmerod estava novamente viva e eficaz no seio da Igreja local. Dessa forma, em 1925, Pe. Carlos Münz foi eleito o 1º Abade de Himmerod após a sua restauração, e o 51º desde a sua fundação, nomeando Pe. Vito Recke como seu prior e Pe. Atanásio Merkle como Mestre de Noviços. Dom Carlos não mediu esforços para restaurar todo o edifício, só faltava a Igreja, como a cereja de um bolo.
A profecia bávara
Certa vez, o bávaro Pe. Mestre de Noviços, Atanásio Merkle, foi visitar a sua conterrânea Teresa Neumann, uma mulher mística estigmatizada que se alimentava somente da Eucaristia, de quem ouviu que faria uma fundação na América do Sul. As circunstâncias, só a providência Divina lhe mostraria. De que modo, só pela fé lhe seria possível afirmar.
Roubaram-lhes todas as cerejas!
Em 1933, promovendo-se em meio às elocubrações amargas dos alemães derrotados, Adolf Hitler sobe ao comando da república alemã, inaugurando um novo reino. Os nazistas, com uma atitude hostil e totalitária, reivindicaram jurisdição sobre entidades católicas e obrigaram Himmerod a pagar-lhes tributos. Dom Carlos Münz, se opondo a tal ousadia, passou a ser perseguido e hostilizado, sua comunidade monástica, além de ter sido saqueada, foi proibida de receber novas vocações. Roubaram-lhes não somente as economias para a reconstrução da Igreja, mas também as novas e preciosas vocações...
Monges entre guerras
Sem a possibilidade de receber vocações, e temendo que a comunidade fosse novamente dissolvida com uma revolução ou uma nova guerra, Dom Carlos Münz envia o Pe. Atanásio Merkle sozinho, em dezembro de 1934, para as Américas, a fim de encontrar uma possível localidade para a transferência da comunidade. Sem novos noviços, o Padre Mestre recordou-se de seus talentos e, como um secretário experiente, partiu novamente em missão.
A fundação
Após mais de um ano em terra estrangeira, tendo passado pelos Estados Unidos da América e depois por várias cidades e estados brasileiros, Pe. Atanásio Merkle recebe a proposta do bispo da diocese de Sorocaba - SP, Dom José Carlos de Aguirre, para fundar o mosteiro na cidade de Itaporanga, com a condição de que os monges dessem assistência aos paroquianos locais, bem como aos da cidade de Riversul. Desse modo, a 5 de agosto, contando com a presença do Abade Dom Carlos e de Ir. Lucas Mertens, que já estavam no Brasil, fundou-se o mosteiro de Itaporanga, como dependência direta de Himmerod, então parte da Congregação de Mehrerau.
O pai e a casa mãe
Após as perseguições, Dom Carlos, tendo renunciando ao abaciato de Himmerod em 1937, refugiou-se junto às beneditinas de Tutzing em Itapetininga - SP, onde findou os seus dias como capelão. Em Himmerod, foi eleito como novo Abade o Pe. Vito Recke, que passa a enviar vários monges para a nova fundação no período que precede a 2ª Guerra Mundial. De 1939 a 1945, a comunidade alemã fornece o mosteiro como hospital aos soldados das batalhas. Quanto à Igreja, só pode finalmente ser concluída em 1960.
Emerge do barro local
Com a chegada do irmão Nivardo Nüdling de Himmerod, exímio mestre de obras, inicia-se a construção da primeira ala do Mosteiro, artisticamente construída com os tijolos fabricados pela Olaria dos Monges em sua propriedade rural, sob a orientação de Ir. Lucas Mertens, cofundador da comunidade. Em 1943, tendo a ala sido concluída, o mosteiro finalmente se torna apto para o recrutamento de vocações brasileiras.
Mosteiro de Santa Cruz
Até 1948 o Mosteiro de Santa Cruz dependia juridicamente de Himmerod e de seu abade Dom Vito Recke, que veio ao Brasil pela primeira vez em 1937. Entretanto, em 1948, a comunidade de Itaporanga torna-se autônoma. Pe. Atanásio Merkle, que até então era prior administrativo, torna-se enfim o superior maior da comunidade monástica, e aproxima-a ainda mais da configuração eclesial e missionária herdada dos trapistas na Bósnia.
Abbas Pater
Após 14 anos de incansável serviço, o Mosteiro de Itaporanga é elevado à categoria de Abadia, sendo Pe. Atanásio Merkle eleito como seu 1º Abade pelo Capítulo Geral da Ordem Cisterciense, realizado em Roma na Itália. Posteriormente, recebeu a bênção abacial em Sorocaba - SP pelas mãos de Dom José Carlos de Aguirre, contando com a presença de sua comunidade monástica.
Casa cheia
Em 1954, a ala frontal do Mosteiro abrigou 44 pessoas. O espaço tornara-se tão reduzido que as celas (quartos) dos monges tiveram que ser divididas em duas; os mais novos, todavia, tiveram quer dormir no sótão por um longo período, entre muito calor e alguns insetos.
Valei-nos, São José!
Com o aumento do número de vocações, a comunidade de Itaporanga pode iniciar a 19 de março a construção de um priorado simples a cerca de 7km da cidade, dedicado a São José, o qual foi inaugurado dezessete meses depois. O priorado simples, popularmente denominado de Mosteirinho, dependente do Mosteiro de Itaporanga, passou a abrigar oito irmãos e um padre, que se dedicavam aos serviços agrícolas e pecuários.
Novo noviciado
Na Abadia, por sua vez, inicia-se a construção da segunda ala do Mosteiro, que veio a ser inaugurada em 1957, para onde o noviciado veio a ser transferido.
Congregação da Santa Cruz
É criada pelo papa João XIII a Congregação da Santa Cruz, que reuniu os vários mosteiros de origem alemã em território nacional em um grupo autônomo, que então deixa definitivamente de pertencer à Congregação de Mehrerau, sendo Dom Atanásio eleito como o seu primeiro Abade Presidente. Em 1988, porém, com a aprovação da Constituição, a Congregação passou a ser denominada "Congregação Brasileira dos Cistercienses".
Igreja de São João Batista
A 12 de novembro de 1959, iniciou-se a construção da Igreja Abacial e Paroquial de São João Batista, com a bênção da pedra fundamental ministrada por Dom José Carlos de Aguirre. O projeto foi elaborado pelo renomado arquiteto alemão, Dr. Albert Bosslet, e foi realizado sob a orientação precisa e metódica de Ir. Nivardo Nüdling, com ligeiras modificações.
Hospedaria e Portaria Paroquial
Até 1970 todo o atendimento pastoral era realizado na ala frontal do Mosteiro, inaugurada em 1943, inclusive o acolhimento aos hóspedes. Com a conclusão da Igreja Abacial, finalmente a comunidade pode construir a última grande realização de Dom Atanásio: a hospedaria e a portaria paroquial.
O fim de uma era
Em 22 de janeiro de 1971, após 35 anos em frente à sua comunidade, o Abade fundador, Dom Atanásio Merkle, renuncia à liderança da comunidade já fragilizado pela idade e pelos problemas de saúde. A era atanasiana, todavia, perdurou até o início da década de 80, com a sua morte, aos seus 92 anos de idade e aos seus mais de 75 anos de vida religiosa. O seu carisma e sua profunda fé marcaram para sempre todos os que com ele conviveram e gozaram de sua confiança.
Dom Estevam Stork
A 10 de fevereiro de 1971, a comunidade de Itaporanga elege o seu segundo abade, o alemão padre Estevam Stork. Sua bênção ocorreu no dia 19 de março de 1971, na recém consagrada Igreja, e foi ministrada por Dom Silvio Maria Dario, bispo da dicoese de Itapeva, à qual o Mosteiro passou a pertencer em 1968, com a sua criação. O abaciato de Dom Estevam foi marcado por uma profunda sensibilidade missionária e catequética para com a população de Itaporanga, e por inumeráveis trabalhos pastorais frente à Paróquia de São João Batista, confiada aos cuidados do Mosteiro. De fato, D. Estevam, antes de ser monge havia sido missionário comboniano, o que lhe permitira exercer a função de pároco com excelência, por longos 50 anos. Renuncia após 35 anos de liderança, em 13 de fevereiro de 2006.
50 anos de fundação
No dia 5 de agosto de 1986, a comunidade monástica de Itaporanga celebra suas bodas de ouro, contando com a presença de D. Ambrósio Schneider, 54º abade de Himmerod. Na ocasião é feita a exumação dos restos mortais de Dom Atanásio Merkle, minuciosamente coletados e lavados pelo Padre Celso Lourenço de Oliveira, e depois transferidos para a Igreja Abacial.
A última testemunha
Falece o cofundador do Mosteiro, Ir. Lucas Mertens. Formado por Dom Atanásio Merkle, ainda em Himmerod, foi responsável pela fabricação de todos os tijolos e telhas para a construção do Mosteiro e da Igreja. Seu corpo está sepultado no lugar onde se encontravam os restos mortais de Dom Atanásio, exumados em 1986.
Dom Luis Alberto Ruas Santos
A 13 de fevereiro, a comunidade de Itaporanga elege seu 3º Abade, o brasileiro Pe. Luis Alberto Ruas Santos, o qual recebe a sua bênção abacial no dia 21 de março de 2006, pelas mãos de Dom Mauro Esteva, Abade Geral da Ordem Cisterciense. O curto abaciato de Dom Luis Alberto, exímio conhecedor da espiritualidade e da tradição monástica cisterciense, passa a ser marcado por um profundo desejo de reavivamento do espírito monástico da comunidade já bastante idosa e fragilizada. As observações sobre a necessidade de resgatar o ideal monástico, apontadas por Dom Luis Alberto, veio a exercer grande influência em toda a Congregação Brasileira dos Cistercienses nos anos consecutivos. Renuncia a 18 de abril de 2011 e regressa para o Mosteiro de Hardehausen-Itatinga - SP.
Novas ampliações
Após quase 40 anos sem nenhuma grande reforma ou ampliação no prédio do Mosteiro, que permaneceu inacabado, a comunidade monástica pode construir, sob a liderança de Dom Luis Alberto R. Santos, uma nova enfermaria para o cuidado dos enfermos, bem como um grande refeitório.
Dom Celso Lourenço de Oliveira
Nos anos de 2011 a 2015, com a renúncia de Dom Luis Alberto, a comunidade monástica de Itaporanga estivera com prior, mas sem um abade. Entretanto, no dia 15 de janeiro de 2015, os monges elegem Pe. Celso Lourenço de Oliveira, monge de profunda humildade e vida interior, como o seu 4º Abade, o qual já estava à frente da comunidade como prior. Sua bênção abacial se deu no dia 26 de janeiro, pelas mãos de Dom Mauro-Giuseppe Lepori, Abade Geral da Ordem Cisterciense. O período da regência de Dom Celso, tanto como abade quanto prior, é marcado por um profundo desejo do reavivamento da fé dos monges e do senso de pertença à comunidade, tanto a nível espiritual quanto a nível histórico. Dom Celso, um dos últimos monges formados por Dom Atanásio, é o grande responsável pelo entusiasmo, pelo reavivamento e pela preservação da história do Mosteiro.
Jubileu da Igreja Abacial
A comunidade monástica alegremente celebra o jubileu de 50 anos de consagração da Igreja Abacial e Paroquial de São João Batista, com a presença de Dom Celso Lourenço de Oliveira e de Dom Luis Alberto Ruas Santos, emérito.
O trabalho das próprias mãos
Os monges reunem-se na fazenda do Mosteirinho de São José para a solene bênção e inauguração do Compost Barns para a sua principal fonte de renda: Bovinocultura Leiteira, ministrada pelo Abade Dom Celso. O projeto foi idealizado pelo Pe. Bento Gonçalves de Oliveira, administrador da fazenda, com total apoio e incentivo de Dom Celso.
Paróquias
Dada a redução expressiva do número dos membros da comunidade, com dezenas de falecimentos nos últimos 20 anos, Dom Celso, juntamente com o bispo diocesano de Itapeva, Dom Arnaldo Carvalheiro Neto, julga conveniente passar as paróquias de Barão de Antonina e Coronel Macedo (SP) aos cuidados diocesanos. Os cistercienses estiveram à frente dessas comunidades desde 1936, quando essas ainda pertenciam ao município de Itaporanga.
Dom Bento Gonçalves de Oliveira
Após a renúncia de Dom Abade Celso L. de Oliveira, por já ter atingido a idade de 75 anos, conforme as normas das Constituições, a comunidade elege como seu 5º Abade o Pe. Bento Gonçalves de Oliveira, natural do próprio município de Itaporanga. Sua bênção abacial se deu no dia 2 de julho, pelas mãos de Dom Mauro-Giuseppe Lepori, Abade Geral da Ordem Cisterciense.
A história continua
Hoje os monges procuram viver sua vocação monástica cisterciense em continuidade com o legado de Dom Atanásio, que herdou o amor à vida monástica e às necessidades da Igreja em sua estadia na Bósnia. Somos todos partes de uma só história. Qual tal fazer parte dela? Seja um monge ou um oblato ou oblata secular de nossa comunidade!